Avanços da Arqueologia Bíblica nos últimos anos desmontam céticos
Descobertas arqueológicas jogam por terra argumentos dos céticos contra a historicidade da narrativa bíblica
No final de 2009, próximo ao Natal, uma equipe de arqueólogos divulgou ter encontrado ruínas de uma residência na cidade de Nazaré, no norte de Israel, datada da época de Jesus. Mês passado, foi a vez de outro grupo de arqueólogos anunciar a descoberta de uma rua de mais de 1,5 mil anos, utilizada por peregrinos cristãos, na cidade velha de Jerusalém (ver matéria na página 13). Tratam-se de duas grandes descobertas, em um período curto de tempo, que estão relacionadas ao relato histórico da Bíblia Sagrada ou à história da Igreja.
Mas, esses acontecimentos recentes são apenas uma pequena amostra da efervescência da Arqueologia Bíblica nos últimos anos. Simplesmente, devido ao maior número de investimentos e recursos para essa área nas últimas décadas, especialmente depois do estabelecimento do Estado de Israel e do início das intensas atividades dos arqueólogos judeus, a maioria das mais importantes descobertas arqueológicas relacionadas aos relatos das Sagradas Escrituras ocorreram nos últimos 70 anos. Tais descobertas, inclusive, derrubaram a maioria das argumentações usadas pelos céticos para contestar a historicidade dos relatos bíblicos. Vejamos, a seguir, apenas alguns dentre centenas de exemplos que poderiam ser listados.
O Evangelho de Lucas fala sobre o nascimento de Cristo mencionando um censo decretado por Cirênio, governador da Síria (Lc 2.2). No final do século 20, arqueólogos descobriram um Cirênio com seu nome gravado em uma moeda que o coloca como procônsul da Síria e Cilícia de 11aC a 4aC, época do nascimento de Cristo, conforme destaca o arqueólogo John McRay, em sua obra Archaeology and the New Testament (Grand Rapids, Baker Book House, 1991, págs. 154 e 385).
Além disso, o arqueólogo Randall Price lembra que “o censo de Cirênio, também mencionado por Lucas em Atos 5.37, tem numerosos paralelos em formulários de censo de papiro que datam do 1o século aC ao 1o século dC†(Arqueologia Bíblica, CPAD, pág. 259). Price cita como exemplos o Papiro Oxirrinco 255 (48dC) e o Papiro 904 do Museu Britânico (104dC), que ordenam o retorno compulsório de pessoas ao local em que nasceram para levantamento de censo, da mesma forma como em Lucas 2.3-5.
Herodes é citado como rei da Judéia na época do nascimento de Cristo (Mt 2). Hoje, sabe-se que Herodes, o Grande, reinou na Judéia de 37aC a 4dC. As ruínas de um dos seus palácios, o chamado Heródium, recentemente exposto em fotos que circularam por todo o mundo, começaram a ser escavadas desde 1973 pelo arqueólogo judeu Ehud Netzer, e comprovam o perfil do infame rei. Netzer, inclusive, é famoso por ter encontrado em 1996, em Massada, o nome e título do rei Herodes em um rótulo de vinho datado de 73dC. “A inscrição em latim tem três linhas, forma padrão encontrada em tais inscrições. A primeira linha é uma data e indica o ano em que o vinho foi feito. A segunda linha dá o lugar e o tipo específico do vinho, e na última linha temos o nome ‘Herodes, Rei da Judéia’â€, contou Netzer em entrevista publicada na revista israelense Eretz, edição de setembro/outubro de 1996.
Outro personagem da narrativa da vida de Cristo cuja existência foi comprovada arqueologicamente é o sumo sacerdote Caifás que, hoje se sabe, foi líder do Sinédrio de 18dC a 36dC. Foi ele que presidiu o julgamento de Jesus e é várias vezes citado (Jo 11.49-53; 18.14 e Mt 26.57-68). Foi no pátio de casa de Caifás que Pedro traiu Jesus (Mt 26.69-75). Essa casa foi encontrada por acidente em novembro de 1990, quando trabalhadores estavam construindo um parque aquático na Floresta da Paz em Jerusalém, ao sul do elevado onde os judeus afirmam ser o monte do Templo.
O local encontrado foi identificado como sendo a casa de Caifás porque ali foram encontrados 12 ossuários de calcário e, entre eles, simplesmente o ossuário contendo os restos mortais do sumo sacerdote. Randall Price relata a descoberta: “Um dos ossuários era requintadamente ornamentado e decorado com rosáceas detalhadas. Obviamente pertencera a um patrono rico ou de alta posição que poderia dar-se ao luxo de possuir tal caixa. Na caixa havia uma inscrição. Lê-se em dois lugares Qafa e Yehosef bar Qayafa, que significa ‘Caifás’ e ‘José, filho de Caifás’. O Novo Testamento refere-se a ele apenas como Caifás, mas Josefo apresenta o nome completo: ‘José, que era chamado Caifás, o sumo sacerdote’. Dentro havia os ossos de seis pessoas diferentes, inclusive de um homem de 60 anos, provavelmente Caifás†( Arqueologia Bíblica, CPAD, pág. 267).
Finalmente, outro personagem contemporâneo de Jesus cuja historicidade foi comprovada arqueologicamente é Pilatos (Jo 18.36-37 e 19.12-15,21-22). Sabe-se hoje que a residência oficial de Pilatos era em Cesaréia Marítima, cidade litorânea do Mediterrâneo. Em 1961, quando o governo italiano patrocinava escavações no teatro romano de Cesaréia, foi descoberta uma placa de pedra de 60cm por 91cm trazendo o nome de Pilatos. Hoje conhecida como Inscrição de Pilatos, a laje é, segundo especialistas, um autêntico monumento do primeiro século que havia sido remodelado no quarto século para a construção do teatro romano. De acordo com eles, trata-se de um monumento para dedicação de Pilatos a um Tibérium – um templo para adoração ao imperador romano Tibério César, que governou durante o mandato de Pilatos na Judéia.
A Inscrição de Pilatos está em quatro linhas, é escrita em latim e apresenta o título “Pôncio Pilatos, governador da Judéiaâ€, exatamente o mesmo título encontrado em Lucas 3.1. “Esse foi o primeiro achado arqueológico que menciona Pilatos e mais uma vez testemunha a precisão dos escritores bíblicos. Esse entendimento de tais mandatos oficiais indica que os autores viveram durante a vigência do seu uso e não um século ou dois depois, quando tais mandatos teriam sido esquecidosâ€, destaca Randall Price.
Com o passar dos séculos, muitos lugares e cidades citadas na Bíblia durante o ministério de Jesus foram descobertos, comprovando mais uma vez a historicidade do relato bíblico. Um desses lugares foi o Tanque de Betesda, lugar do milagre da cura de um paralítico por Jesus (Jo 5.1-15). Ele foi encontrado em 1903 na Jerusalém Oriental por Fathers White, e é datado do terceiro século a.C., o que comprova o relato bíblico de que o tanque já era um tradicional e lendário local de ritual de cura na época de Jesus.
Outro lugar descoberto foi a Sinagoga de Cafarnaum, antiga cidade natal do profeta Naum (Cafar significa aldeia) e lugar onde Jesus desenvolveu boa parte de seu ministério. Ao lado do mar da Galiléia, onde se encontrava a cidade, foi encontrada em 1983 uma sinagoga do primeiro século, com paredes de basalto preto. A descoberta foi divulgada pela conceituada revista Biblical Archaeology Review, edição de novembro/dezembro de 1983. Foi nessa sinagoga que Jesus operou muitos milagres (Mt 8.5-13 e Lc 7.1-10).
Em Cafarnaum também foi encontrada uma casa datada do primeiro século. O detalhe é que suas paredes são tão estreitas que não agüentariam um telhado de alvenaria. Descobriu-se, em seguida, que os telhados das casas da região eram, na época, de ramos de madeira recobertos com terra batida. Tais telhados encaixam-se perfeitamente com a descrição bíblica do telhado de uma casa em Cafarnaum na época de Jesus, uma vez que a passagem bíblica afirma que foi cavado um buraco no teto rapidamente para descer um paralítico até onde Ele estava (Mc 2.4). A descoberta foi publicada também na Biblical Archaeology Review, edição de setembro/outubro de 1993.
Em 1989, perto de Cafarnaum, foi descoberta Betsaida, cidade natal de Pedro, Felipe e André (Jo 1.44 e 12.21). Ali foram encontradas, em escavações do arqueólogo israelense Rami Arav, evidências de uma indústria pesqueira, com muitas âncoras e anzóis, o que está de acordo com a narrativa bíblica. Tais descobertas foram relatadas por Ariv no livro A City by the North Shore of the Sea of Galilee, publicado em inglês pela Thomas Jefferson University Press em 1995.
Em 1993, foi descoberta a Estela de Tel Dan. Trata-se duma pedra de basalto escuro que menciona a “Casa de Daviâ€, com a inscrição bytdwd, (byt casa dwd Davi). Em 1996, foi descoberta a inscrição de Ecrom (Tel Mikné) contendo o nome da cidade filistéia de Ecrom e uma lista dos seus reis. Em 1998, foi descoberta a Sinagoga de Jericó datada do ano 75 a.C. Em 2001, foi descoberta a Estela de Joás, rei de Judá. Em 2007, foi encontrado o túmulo de Herodes.
Também recentemente foram encontradas a cidade de Caná da Galiléia e o Tanque de Siloé, mencionados no Evangelho de João (Jo 2 e 9).
Arqueólogos israelenses anunciaram em 22 de dezembro de 2004 a descoberta, na Galiléia, do lugar onde estava localizada a aldeia de Caná, citada na Bíblia como o local onde Jesus realizou seu primeiro milagre, transformando água em vinho durante um casamento (Jo 2.1-11). Curiosamente, foram encontrados no local jarros de pedra do mesmo tipo e da mesma época dos usados no milagre efetuado por Jesus. A descoberta inclui ruínas de mais de um metro e meio de altura que datam das épocas helenística, romana e bizantina na Terra Santa. Pedras talhadas e utensílios caseiros foram desenterrados no local a uma profundidade de quase dois metros.
Em janeiro de 2005, dias depois da descoberta da Caná bíblica, foi a vez do Tanque de Siloé, outra referência a um milagre de Jesus no Evangelho de João (João 9), ter sido encontrado. Uma equipe de arqueólogos descobriu em Jerusalém vestígios de pedra que seriam a Piscina (Tanque) de Siloé, onde um homem cego foi se lavar sob a orientação de Cristo e voltou vendo (Jo 9.7). A piscina fica no bairro árabe de Siloé. Durante os trabalhos, que duraram seis meses, eles descobriram que o tanque tem 50 metros de comprimento e era abastecido por uma canal vindo da Fonte de Siloé. A piscina de pedra tem degraus de acesso por todos os lados.
Em 22 de fevereiro de 2010, a célebre arqueóloga judia Eilat Mazar, que já tem em seu currículo descobertas sensacionais como a do Palácio de Davi, anunciou a descoberta de uma seção de um muro da cidade antiga de Jerusalém, datado do décimo século a.C., construído pelo rei Salomão, e que trata-se de um dos muros em torno do primeiro Templo de Jerusalém, erguido pelo filho e sucessor de Davi no trono de Israel. As escavações arqueológicas, dirigidas pela Dra. Eilat Mazar, foram realizadas com o apoio da Universidade Hebraica de Jerusalém.
A seção da muralha da cidade revelada tem exatos 70 metros de extensão e 6 metros de altura, e está localizada na área conhecida como Ofel, entre a cidade de Davi e a parede sul do Monte do Templo. No complexo das escavações da muralha foram descobertas ainda uma portaria interna de acesso à cidade, uma estrutura real junto ao portão e uma torre no canto da muralha com vista para uma parte substancial do Vale do Cedrom e adjacências.
As escavações na área de Ofel foram realizadas ao longo de três meses e com o financiamento de Daniel Mintz e Berkman Meredith, um casal de judeus de Nova York interessados em Arqueologia Bíblica, e que têm financiado boa parte das escavações empreendidas pela arqueóloga Eilat Mazar. O financiamento tem sido suficiente para suprir os gastos com a conclusão das escavações arqueológicas, com o processamento e análise dos achados, e com os trabalhos de conservação e preparação do local para sua visualização por parte do público, pelo Parque Arqueológico Ofel e pelo Parque Nacional em torno das muralhas de Jerusalém.
As escavações foram realizadas em cooperação com a Autoridade de Antiguidades de Israel, a Autoridade Israelense de Natureza e Parques, e a Companhia de Desenvolvimento da Jerusalém Oriental. Elas contaram ainda com o auxílio de alunos do Curso de Arqueologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, de alunos voluntários do Herbert W. Armstrong College, em Tulsa, Oklahoma (EUA), e de trabalhadores contratados para participaram nos trabalhos de escavação.
“A força e a forma de construção do muro da cidade indicam um alto nível de engenhariaâ€, descreveu Mazar. O muro fica no extremo leste da área de Ofel, numa localização estratégica no alto, a oeste do Vale do Cedrom.
“Uma comparação entre esta última descoberta com muralhas e portões do período do Primeiro Templo, assim como a cerâmica encontrada no local, nos permitem postular com um grande grau de certeza de que a parede que foi revelada é a que foi construída pelo rei Salomão em Jerusalém na última parte do século 10 a.C. Esta é a primeira vez em que é encontrada em Jerusalém uma estrutura idêntica às descrições bíblicas das construções empreendidas na época do rei Salomão. O muro é idêntico com o relato na Bíblia e as características de resistência da construção demonstram uma engenharia de alto nívelâ€, declara a arqueóloga.
A Bíblia relata que Salomão construiu, com o auxílio dos fenícios, o Templo de Jerusalém e o seu novo palácio, e cercou a cidade com uma muralha muito provavelmente ligada às paredes mais antigas da cidade de Davi. Mazar lembra especificamente o terceiro capítulo do Primeiro Livro dos Reis de Israel, que diz: “Até que acabasse de edificar a sua casa, e a casa do Senhor, e a muralha de Jerusalém em redorâ€, 1Rs 3.1.
Os 6 metros de altura da porta de entrada do complexo do muro da cidade são construídos no estilo típico da época do Primeiro Templo, como pode ser encontrado em Megido, Beersheva e Ashdod. Há ainda, de forma simétrica e idêntica, quatro pequenas salas, duas de cada lado do corredor principal. Também há na estrutura uma grande torre adjacente, cobrindo uma área de 24 metros por 18 metros, que se destinava a servir como uma torre de vigia para proteger a entrada da cidade. A torre situa-se hoje sob a estrada que fica nas proximidades das escavações, e ainda precisa ser totalmente escavada. Durante o século 19, mais precisamente em 1867, o arqueólogo britânico Charles Warren já havia realizado uma vistoria no subsolo da área e descrito pela primeira vez o esboço da grande torre, mas não prosseguiu nas escavações nem muito menos chegou a datar a torre.
“Parte do complexo do muro da cidade serviu como espaço comercial e parte como centrais de segurançaâ€, explica a arqueóloga Eilat Mazar. Isso confirma o costume do povo judeu à época, conforme podemos ver, por exemplo, quando Boaz procurou resgatar Rute às portas da cidade: “Enquanto isso, Boaz subiu à porta da cidade e sentou-se, exatamente quando o resgatador que ele havia mencionado estava passando por ali. Boaz o chamou e disse: ‘Meu amigo, venha cá e sente-se’. Ele foi e sentou-se. Boaz reuniu dez líderes da cidade e disse: ‘Sentem-se aqui’. E eles se sentaramâ€, Rt 4.1-2.
Segundo Mazar, dentro do pátio da grande torre havia atividades públicas. Ele servia como um ponto de encontro do público, como um lugar para a realização de atividades comerciais e de culto, e como um local para as atividades econômicas e jurídicas.
Além dos exames de datação realizados, cacos de cerâmica descobertos no preenchimento do piso inferior do edifício real, perto da portaria, também
atestam que a datação do complexo está correta. Ele é mesmo do século 10 a.C.
O que foram encontrados no chão são restos de jarros de armazenagem, com cerca de 1,15 metro de altura, que sobreviveu à destruição pelo fogo e que foram encontrados em quartos que aparentemente serviram de área de armazenagem no piso térreo do edifício. Em um dos frascos, há uma inscrição em hebraico antigo parcial indicando que pertencia a um alto funcionário do governo, um funcionário de nível superior.
“Os frascos que foram encontrados são os maiores já encontrados em Jerusalém. A inscrição que foi encontrada em um deles mostra que pertencia a um funcionário do governo, aparentemente a pessoa responsável por supervisionar o fornecimento de produtos de padaria para a corte realâ€, explica Mazar.
Além dos cacos de cerâmica, objetos que fazem referência ao culto hebreu também foram encontrados na área, assim como impressões de selos na jarra, onde pode ser lido “Ao reiâ€, o que atesta a sua utilização dentro da monarquia. Também foram encontrados impressões de selos com nomes hebraicos e também indicando a natureza real da estrutura. A maioria dos pequenos fragmentos descobertos veio de peneiração intrincada feita com a ajuda do Projeto de Restauração Monte do Templo, dirigido pelo Drs. Gabriel Barkai e Zweig Zachi, e sob o patrocínio da Autoridade Israelense de Parques e da Natureza, e da Fundação David.
Entre a grande torre na entrada da cidade e o edifício real, os arqueólogos descobriram uma seção da torre do canto que é de 8 metros de comprimento e 6 metros de altura. A torre foi construída em pedra talhada de invulgar beleza. A leste do edifício real, também foi revelada uma outra seção da muralha da cidade, que se estende por cerca de 35 metros. Essa seção é de 5 metros de altura e é parte do muro que continua a nordeste.
Salomão foi rei de Israel por 42 anos, de 970 a.C. a 928 a.C. Seu reinado foi marcado pela sabedoria e pela prosperidade. Além de construir o magnífico Templo do Senhor no Monte Moriá, aposentando a estrutura desmontável do Tabernáculo, ele ergueu o palácio real em Ofel, um grande aqueduto e um forte para garantir a segurança da cidade. Durante o reinado de Salomão, foram feitas alianças comerciais com o Egito, a Arábia, Tarshish (hoje Espanha) e o sul da Índia.
No ritmo em que vão as descobertas na Arqueologia, mais achados são esperados nos próximos anos, os quais, com certeza, ganharão as páginas dos jornais e dos sites de notícias, como o CPAD News.
Fonte: CPAD News
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