Geólogos britânicos dizem que fenda existente no norte da Etiópia está se agravando e pode dividir o continente africano em duas partes
Silvia Pacheco
Foto: Jullie Rowland/Divulgação Em expansão: a fenda é resultado de quatro erupções vulcânicas ocorridas na região nos últimos cinco anos |
Uma delas pode ficar isolada no Oceano Pacífico. Processo deve levar ainda alguns milhões de anos
No futuro, a África terá uma nova geografia. A parte leste do continente será separada, tornando-se uma grande ilha no meio do Oceano Índico. É o que prevê um grupo de cientistas britânicos que vem monitorando mudanças geológicas na região de Afar, no norte da Etiópia. Segundo os estudiosos, uma fenda de 60km de comprimento se abriu na região em 2005 e, desde então, vem crescendo. “Na depressão de Afar, a crosta mais exterior da Terra, geralmente rígida, com uma placa com 150km de espessura, foi esticada, afinada e esquentada a ponto de quebrar”, descreve James Hammond, geólogo da Universidade de Bristol.
A equipe também observou que rochas quentes e parcialmente derretidas estão subindo para a crosta e estão ou em erupção na superfície da Terra ou resfriando embaixo dela. “O processo vai acabar dividindo a África em duas partes, transformando parte da Etiópia e da Somália em uma grande ilha”, prevê o pesquisador.
A fenda está localizada no Vale do Rift(1) e chega a 3 mil quilômetros de profundidade. Hammond informa que o centro das placas se move constantemente. “Mais ou menos na mesma velocidade que crescem as unhas das suas mãos”, compara. No entanto, a junção entre as placas ainda está presa, aumentando a tensão — como um elástico sendo esticado. “Eventualmente o elástico quebra, e nós temos uma acelerada explosão de movimento na fronteira entre as placas”, diz Hammond, ressaltando que essas rupturas são raras, ocorrendo uma vez a cada 500 anos no local.
Vulcões
A fenda é resultado de quatro erupções vulcânicas ocorridas na área nos últimos cinco anos. Segundo Hammond, partes de Afar já estão sob a água. “Há apenas uma barreira natural de 25m de altura na Eritreia que impede a água de inundar totalmente o local. Acreditamos que vai levar 10 milhões de anos para entrar água na fenda do leste da África. “Provavelmente isso ocorrerá mais rapidamente em Afar.”
Um monitoramento de apenas 10 dias verificou a grande expansão da fenda. Segundo Hammond, a camada de magma que encheu a rachadura tinha 60km de comprimento, 8m largura e entre 2km e 10km de profundidade.
Para descobrir esses dados, os cientistas implantaram sismômetros para registrar terremotos, estações de GPS para saber como o chão se move e utilizaram métodos geofísicos e satélites para ter imagens da superfície e do interior do solo. “Observamos as deformações do solo e coletamos rochas para entender mais detalhes sobre os processos geológicos envolvidos. Com isso, nós não apenas monitoramos os terremotos e vulcões, mas também entendemos melhor os riscos”, explica Hammond. “Também construímos imagens de dentro da terra para, desse modo, compreender o sistema de canalização do sistema da rachadura”, acrescenta.
1 - Complexo de falhas
O Vale do Rift, ou Vale da Fenda, é um complexo de falhas tectônicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectônicas africana e arábica. Essa estrutura estende-se por cerca de 5 mil quilômetros, desde o norte da Síria até ao centro de Moçambique, com uma largura que varia entre 30km e 100km e profundidades de algumas centenas a milhares de metros.
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