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quarta-feira, 28 de julho de 2010

ECONOMIA MUNDIAL PODE IMPLODIR

Enviada por Amigo da Net

28/07/2010 - 00h01

Aumenta o temor de que economia mundial esteja sujeita a uma segunda onda recessiva

Financial Times
Chris Giles

Apesar dos dados de forma alguma apontarem para uma recessão, crescem os temores a respeito de uma recuperação que foi notável em amplitude, mas que mantém pelo menos quatro riscos principais à sua durabilidade, como escreve Chris Giles

Duplo mergulho. É a frase na boca de todos, fazendo muitos dos lábios tremerem. Com o choque de 2008 desaparecendo da memória, chegou o momento do ajuste de contas da economia global. Será que a recuperação a partir do ponto mais baixo se confirmará como um retorno da expansão sustentável –ou o alívio inicial se transformará no desespero de uma nova desaceleração?

Não há dúvida de que o sentimento azedou desde o primeiro semestre, com a hesitação das autoridades europeias diante da crise da dívida soberana, intensificando seus efeitos. Basta realizar uma pesquisa –apesar de não científica– na imprensa de língua inglesa nos últimos seis meses: apesar de mencionar que a recuperação em forma de V permanece constante, as referências a um duplo mergulho aumentaram. Elas quadruplicaram em julho em comparação a maio.

Essa conversa é alimentada pelos profetas do apocalipse. O principal deles, Nouriel Roubini, presidente da Roubini Global Economics, argumentou na semana passada que uma recessão na economia global “acelerará na segunda metade do ano”. Para a Europa e o Japão, “evitar uma recessão de duplo mergulho será difícil”, ele disse. De fato, como se aproveitando a deixa, os indicadores de atividade manufatureira enfraqueceram em junho na China, Coreia do Sul, Taiwan, Índia e Austrália.

O pessimismo se espalhou para os autores de políticas na maior economia do mundo. Revisando as previsões para baixo pela primeira vez desde 2009, Ben Bernanke, o presidente de Federal Reserve (Fed, o banco central americano), disse ao Congresso na semana passada que o panorama americano é “incomumente incerto”. O presidente do banco central americano acrescentou: “Nós estamos prontos e agiremos se a economia não continuar a melhorar, se não virmos o tipo de melhorias no mercado de trabalho que esperamos”.

Lawrence Summers, conselheiro econômico-chefe do presidente Barack Obama, descreveu as principais economias do mundo como “próximas ou em condições de armadilha de liquidez”, o que se traduz como deixando implícito que estão tão fracas a ponto das taxas de juros baixas e outras ferramentas de política monetária serem estímulos ineficazes. Independente de quanto dinheiro seja despejado no sistema, as pessoas estão tão nervosas que apenas o guardam.

Mas enfatizar o negativo não conta toda a história. Apesar do aumento dos temores, os dados não apontam com agouro para uma desaceleração. Em vez disso, liderada por uma expansão notável nas economias emergentes, a economia mundial surpreendeu a quase todos ao crescer em um ritmo tão veloz em 2010 quanto antes da crise financeira.

Apesar da previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para este ano ser de parco 1,9% em abril de 2009, ela já foi revista posteriormente cinco vezes, cada vez mais para cima, de forma que agora está em 4,6%. O comércio mundial está crescendo em taxas de dois dígitos e, mesmo nos países desenvolvidos, aumentos para cima nas previsões de crescimento superam as revisões para baixo. A expectativa é de que a economia alemã tenha crescido mais de 1% no segundo trimestre; o órgão de estatística do Reino Unido registrou um crescimento de 1,1% no mesmo período, a taxa mais rápida em quatro anos.

Essas palhas positivas ao vento levaram alguns autores de políticas europeus a pedirem de forma mais estridente por arrochos fiscais do que ousariam há um ano. Jean-Claude Trichet, o presidente do Banco Central Europeu, pediu na semana passada por um endurecimento fiscal em toda parte. “Olhando para trás, nós vemos quão desafortunada foi a mensagem simplista de estímulo fiscal dada a todas as economias industrializadas, sob o lema: ‘estimule’, ‘ative’, ‘gaste’!” ele escreveu no “Financial Times”.

Apesar das preocupações com um duplo mergulho, a grande maioria dos economistas ainda prevê a continuidade da recuperação, mesmo ao reconhecerem que a economia global desacelerará na segunda metade de 2010. William Buiter, economista-chefe do Citigroup, não espera nenhum choque forte da Europa. “É uma recuperação patética, mas não mais patética do que a esperada antes da crise da dívida soberana.”

É claro, Trichet não pode ver o futuro tanto quanto Bernanke, Roubini ou Buiter. E fora o curtíssimo prazo, as previsões econômicas comunicam pouca informação de valor. Usando erros de previsão do passado como guia, o novo Escritório de Responsabilidade Orçamentária do Reino Unido vê 80% de chance de que a economia britânica crescerá entre 0,4% negativo e 4,7% positivos em 2011, um intervalo tão grande que abrange tanto boom quanto recessão. Também de pouca ajuda para prever o futuro é o cálculo de que há uma chance de 50% de que o crescimento em 2011 será ou abaixo de 1,2% ou acima de 3,9%.

O que vale para o Reino Unido também se aplica à economia global, segundo Michael Dicks da Barclays Wealth. As incertezas em relação ao consumo americano, à sobrevivência da união monetária europeia e da inflação asiática significam “que as previsões macroeconômicas precisam ser atualmente baseadas em cenário, em vez da variedade mais habitual de ‘melhor palpite’”.

Então, o que poderia causar um duplo mergulho global? Há quatro grandes riscos: uma queda geral na confiança, a eliminação dos estímulos temporários ao crescimento, uma implosão financeira repentina e uma reação ruim à austeridade fiscal.

Diminuição da confiança

A primeira entre as causas de preocupação é o efeito da queda da confiança das empresas e dos lares, a cola que mantém unida a recuperação global. O sinal inicial veio em maio, quando o índice global dos gerentes de compras tanto do setor manufatureiro quanto do de serviços caiu de seu pico em abril, com a queda da atividade e de novas encomendas.

Os declínios continuaram em junho, alimentando os temores de que a fase rápida de recuperação poderia ser breve. Mas os resultados de julho para a Europa –a principal causa de preocupação no primeiro semestre– foram muito mais encorajadores. “Isso sugere que o forte impulso de crescimento do segundo trimestre de 2010 ainda não foi totalmente perdido”, diz Greg Fuzesi, do JPMorgan, com o produto interno bruto “aparentando ainda estar crescendo confortavelmente a uma taxa anualizada acima de 2,5% no início do terceiro trimestre”.

Os lares também mostraram poucos sinais de voltar ao medo de gastar. Apesar de na maioria dos países atingidos pela recessão eles estarem poupando muito mais do que antes da crise, as taxas de poupança pararam de aumentar. Nas taxas atuais, os lares serão capazes de reduzir a dívida sem atrapalhar o crescimento econômico.

O fim dos estímulos temporários

Uma segunda preocupação é a de que a recuperação tenha sido provocada demais pelas características temporários das economias pós-recessão –como a recomposição dos estoques pelas empresas. Dada a dependência americana da mudança dos estoques para grande parte de seu crescimento nos últimos dois trimestres, Bernanke está preocupado. Em seu relatório semianual, ele disse ao Congresso neste mês que a “política fiscal e a recomposição dos estoques provavelmente fornecerão menos ímpeto à recuperação do que nos últimos trimestres”.

Mas até mesmo previsores tradicionalmente pessimistas concordam que ainda há impulso suficiente nessas economias para impedir um duplo mergulho, resultante apenas do fim do ciclo de estoque.

Julian Jessop, da Capital Economics, diz que as “recuperações nos Estados Unidos e na China parecem estar desacelerando para um ritmo mais sustentável do que parando completamente”. Os dados sobre investimento e consumo foram muito bons, ele diz. “A probabilidade sempre foi de que o crescimento desacelerasse assim que esses estímulos desaparecessem. Mas essa desaceleração não precisa se desenvolver em um duplo mergulho.” Na China, onde o crescimento anual desacelerou para 10,3% no segundo trimestre, após 11,9% no primeiro, a desaceleração ajuda “a evitar um superaquecimento e contribui na transformação de nosso modelo econômico”, reconhece Sheng Laiyun, do Birô Nacional de Estatísticas.

Um retorno da crise

O terceiro temor é de que é apenas uma questão de tempo até que outra crise ocorra, como no mercado de dívida soberana da Europa. Assim como o colapso do Lehman Brothers em 2008, uma fissura repentina arruinaria todas as análises baseadas nas recentes tendências.

Reconhecendo esse risco, o FMI diz que a recente turbulência de mercado “lançou uma nuvem sobre o panorama”, e se a confiança e o crescimento implodirem na Europa, “o contágio de crescimento negativo em outros países e regiões poderia ser substancial, dados os elos financeiros e comerciais”. Segundo um modelo de desastre semelhante na Europa no final de 2008, o crescimento mundial cairia em 1,5 ponto em 2011, estimou o FMI, e a zona do euro sofreria um sério duplo mergulho.

Felizmente para o mundo, os sinais no primeiro semestre de que a implosão era iminente e a resposta hesitante dos governos europeus, para implantação dos planos de resgate, nunca chegaram a se transformar em uma crise mais ampla. Como diz Holger Schmieding, do Bank of America Merrill Lynch: “A Grécia está realizando uma impressionante recuperação fiscal; a Espanha passou pela alta temporada de fundos de julho com sucesso. O risco da Espanha cair com estardalhaço na rede de segurança logo diminuiu”.

Quanto mais a Europa se ajeita sem a ocorrência de uma nova crise, mais remoto se torna o risco de uma implosão repentina. Segundo Buiter, “o cenário de desastre dos calotes soberanos não está mais na mesa exceto como um risco extremo”. Os testes de estresse dos bancos europeus na semana passada podem representar outro pequeno passo para longe do abismo.

Consequências da austeridade

O quarto temo é de que se o risco de crise financeira é muito real, mas está diminuindo, os riscos para a economia global de uma austeridade fiscal sem dúvida cresceram. Os orçamentos dos governos de todo o mundo sofreram um endurecimento desde a crise da Europa em maio, fornecendo outro vento contrário em um momento em que há uma tendência natural para as economias desacelerarem.

Os economistas concordam que a política fiscal precisa ser endurecida, mas discordam do momento para os aumentos de impostos, cortes de gastos e aceleração da redução do déficit. Até mesmo o FMI está nervoso. “A maioria das economias avançadas não precisa de um endurecimento fiscal antes de 2011, porque um endurecimento precoce poderia minar a recuperação nascente, mas não é preciso a adição de novos estímulos”, ele diz.

Mas a agitação gerada pelo debate econômico teórico em torno da austeridade fiscal pode exagerar a importância econômica das políticas orçamentárias planejadas. Nem um endurecimento extremo e nem um estímulo extremo estão na mesa em qualquer economia emergente ou desenvolvida significativa. Na média, para redução dos déficits, os membros do Grupo dos 20 países com economias mais importantes planejam gastos e medidas fiscais no valor de 1,25% da renda nacional em 2011, em comparação a 1,1% antes da crise da dívida na Europa. Os mercados emergentes estão endurecendo os orçamentos em 0,85% da renda nacional, em comparação a 0,65% em abril.

O endurecimento extra não é grande o bastante para devolver o mundo à recessão, se as previsões do FMI de uma expansão global de 4,3% e 2,4% nas economias avançadas forem razoáveis.

Assim, com cada um dos quatro grandes riscos se mostrando menos perigosos –ou improváveis por conta própria de empurrar as coisas além da beira do abismo– e com a manutenção da confiança, a maioria dos economistas espera um avanço duro nos próximos anos. O quadro é de crescimento lento somado a austeridade no setor público nas economias desenvolvidas, e crescimento mais rápido no mundo emergente.

Nós podemos esperar “um período prolongado de crescimento relativamente lento nos países industrializados nos próximos anos, somado a uma pouca disponibilidade de crédito, consolidação fiscal e altas dívidas privadas”, disse Michael Saunders, do Citi.

Mas igualmente, ninguém sabe ao certo se as tendências atuais durarão e se é seguro declarar que está tudo bem. Lorde Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial e acadêmico da Escola de Economia de Londres, diz que as incertezas apresentadas por Bernanke são muito reais. “Nós não sabemos o que pode acontecer à confiança do consumidor e do investidor; é absurdo fingir o contrário.”

Tradução: George El Khouri Andolfato
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