O novo ano se abre com as seguintes preocupações: dois anos após o colapso financeiro iniciado com a quebra do Lehman Brothers, a economia mundial e o sistema financeiro, distante de se recuperarem, entram numa era de turbulências econômicas e políticas sem precedentes. De repente, percebeu-se que a crise financeira não era uma queda cíclica que seria seguida de uma ascensão, mas o início de uma nova era de quebradeira econômica.
Numa declaração publicada no mês passado, Jeffrey Garten, subsecretário de comércio do governo Clinton e professor da universidade de Yale, afirmou: “À medida que se aproxima do fim a primeira década do séc. XXI, legando ao esquecimento o constante crescimento da segunda metade do último século, o que o futuro reserva à economia mundial? Nos próximos vários anos, podemos esperar uma turbulência excepcional, na medida em que a ordem econômica global que conhecemos age caoticamente e, possivelmente, de forma destrutivaâ€.
O foco imediato da atenção é lançado sobre a Europa, onde, de acordo com o comentado no New York Times por Simon Johnson, economista-chefe do FMI, “os analistas mais experientes da Zona do Euro esperam um séria crise neste início de 2011, vinculada aos fundos necessários aos governos enfraquecidosâ€.
No entanto, como previne Johnson, a turbulência não se aterá ao Atlântico. “Quando os mercados financeiros esgotarem-se na Europa, testarão a capacidade fiscal dos EUAâ€. Apesar da crença de toda a elite norte-americana de que “somos diferentes dos Europeus porque detemos o dólar e, portanto, temos privilégiosâ€, a era do domínio norte-americana, insiste ele, terminou.
O Financial Times também apontou para a probabilidade de que a crise financeira européia se espalhe nos próximos meses. “O último ano nos trouxe a crise fiscal da Zona do Euro. A Grécia e a Irlanda tiveram de ser resgatadas e muitas questões pairam sobre Portugal e Espanha. Mas o foco, agora, parece se ampliar. A questão para 2011 é: quanto do mundo ocidental será envolvido?â€, escreveu em 3 de Janeiro.
O FT citou uma pesquisa realizada entre os principais investidores de um dos maiores bancos de investimento dos EUA. Quando questionados se a crise fiscal que afeta a Europa se estenderia aos EUA, menos de 10% assinalou “nuncaâ€.
Enquanto os problemas econômicos e financeiros se aprofundam na Europa e nos EUA, a economia chinesa, ainda em crescimento, longe de garantir uma nova base para a expansão da economia mundial, pode se tornar uma fonte da nova onda de turbulência internacional.
A inflação crescente abriu espaço para as autoridades aumentarem as taxas de juros, espalhando preocupações de que, se esse crescimento for muito intenso, ocorrerá um colapso nos investimentos e estourará uma verdadeira bolha estatal – que em grande parte foi promovida por autoridades governamentais locais -, que desempenhou um papel central no crescimento da economia chinesa nos últimos dois anos.
De acordo com o professor da Universidade de Pequim, Michal Pettis: “Os débitos públicos estão assustadoramente altos e começam a agir pressionando o reequilíbrio. Se torna cada vez mais difícil ao Banco Popular da China manter suas taxas de juros sem gerar um conflito entre as entidades relacionadas ao governoâ€.
Os problemas que se aprofundam na economia chinesa, ainda que aumentados pela crise financeira mundial, têm raízes em processos de longo prazo. Segundo o ex-membro do Comitê de Política Monetária do Banco Popular da China, Yu Yongding, como afirmado no China Daily, o “patamar de crescimento do leste asiáticoâ€, que embasou todo o crescimento chinês das últimas três décadas “agora praticamente exauriu seu potencialâ€. Consequentemente, “a China atingiu um conjuntura crucial†e “sem dolorosos ajustes estruturais, o momento de seu crescimento econômico pode ser perdidoâ€.
As ações dos EUA estão alimentando a crescente turbulência na economia mundial.
Os EUA funcionaram, por um longo período após a II Guerra Mundial, como a âncora da economia capitalista mundial. Hoje, são uma das principais fontes de desestabilização, na medida em que buscam superar seus crescentes problemas econômicos às custas de seus rivais.
A política do “quantitative easing†do FED (Banco Central do EUA), que consiste em injetar bilhões de dólares no sistema financeiro mundial – aumentando a disponibilidade de financiamento barato e rebaixando o valor do dólar – lança ondas de choque sobre a economia do mundo.
Uma das consequências imediatas tem sido a especulação renovada sobre os alimentos e bens básicos, como a gasolina. Nesta semana, a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU gerou um aviso a respeito dos preços dos alimentos, que ultrapassaram os valores da alta de 2007-2008.
Diversos países, confrontadas com o “dinheiro fácil†injetado pelo “quantitative easingâ€, adotam agora medidas de controle financeiro. Foi o caso, nesta semana, do anúncio de regulações bancárias no Brasil para tentar contornar o influxo financeiro, assim como no Chile, onde autoridades intervieram nos mercados monetários buscando diminuir o valor do peso.
Apontando as profundas divisões na economia mundial, o Nobel em economia Joseph Stiglitz notou que a política coordenada das maiores potências ante a crise em 2009 não está “longe na memóriaâ€.
“Piorâ€, continua ele, “a política americana do ‘quantitative easing’ deve ser vista apenas como um atualização das políticas que marcaram a Grande Depressão. O mundo se volta agora ao caminho onde taxas de juros são usadas em autopromoção de alguns países e prejuízo de outros – desencorajando importação e encorajando exportação (…) Tais políticas de má vizinhança não funcionaram nos anos 30, por conta das respostas dos países. Hoje ocorrerá o mesmoâ€.
O surgimento de guerras cambiais ameaça quebrar o mercado mundial da mesma forma que as barreiras de tarifas fragmentaram o mundo na década de 1930 entre alguns blocos econômicos hostis (que levou à guerra ao final da década).
As crescentes tensões entre as maiores potências são acompanhadas de um crescente e feroz assalto às conquistas sociais da classe trabalhadora. Os ataques e a violência estatal contra estudantes, jovens e trabalhadores pelos governos da Inglaterra, Grécia, Espanha e França na tentativa de implementar as medidas de austeridade ditadas pelos bancos e mercados financeiros apenas prenuncia o que virá na medida em que a burguesia de todo o mundo tentar fazer a classe trabalhadora pagar pela bancarrota histórica do sistema do lucro.
Assim como a quebradeira do capitalismo se dá em proporções continentais e em todo o mundo, a classe trabalhadora precisa se unir e dar sua resposta. É preciso criar um movimento unificado da classe trabalhadora mundial que a organize para tomar o poder político e estabelecer novos governos, dos trabalhadores, colocando os recursos econômicos, financeiros e naturais em suas mãos, buscando atender as necessidades sociais de todos. Essa é a perspectiva do Comitê Internacional da Quarta Internacional.
Por Nick Beams
13 de janeiro de 2011
[Traduzido por movimentonn.org]
Fonte: WSWS
http://www.wsws.org/pt/2011/jan2011/port-j13.shtml
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